terça-feira, 13 de março de 2012

A flor no abismo


Quando chega o tempo de amoras
Nem o fruto espesso, nem as sementes são em vão
Os campos imensos de papoulas, as vestes claras
e na boca um perfume de maçãs
Sentar sob o sol e apenas auscultar o coração
Quem entenderia esse ato profano, silvestre e rude sob a carnadura dos astros apodrecendo nossos destinos ?
Onde você está ?
Onde você mora ?
Por que agita de sombras e figueiras imensas o meu coração ?
Por que ainda dormita na minha pele seu silêncio de ostra
e seu cheiro nacarado de incensos ?
Por que minhas mãos ainda tateiam as suas em busca de algum vestígio de ervas ?
Será que ainda posso repousar morna minha cabeça sobre seu regaço ?
E se as batidas tão fortes do tambor que carrega agita ainda meu sono breve. Não, não diga que isso é pecado !
Apenas aceite que os ecos do amor ainda comprometem a respiração ofegante de meu ventre.
Então vou te procurar na canção muda das formas vagas
no palpitar étereo e invisível dos passantes dos cortejos de praça
no verde ramo de alguma velha mangueira.
Tudo que tenho me atravessa agora com os caminhos tombados
e me confunde os sentidos quando penso em teu nome
Orvalho e relva florescem nas luzes da manhã que não quer passar
Te espero nas órbitas circundantes de quando estive um dia e existi inteira
Te espero em festa e silêncio
como uma rosa que não quer abrir para não ser nunca apanhada
Então apenas permaneço como estrofe recorrente de um poema roto
E se talvez amanhã eu der mais um passo em direção a esse abismo para apanhar a flor que me oferesces?



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