terça-feira, 23 de julho de 2013

Sermos a ermo
seres vazios

nem boca, nem flora

ágora de sêmen em asas
versos no caso de verbos lascivos
que vazam
correm
escorrem
inversos
a fio

e morrem...
e morrem...



O palato acostumado
a ceifar as nuvens plácidas dos  versos

soçobram
solfejam
soluçam
no céu da boca

 e enfrentando
as borrascas e tempestades
enterro
os meus pés na lama

quanto então
 uma águia de fogo
do alto de um penhasco
vem bicar meus olhos

enquanto penteio
 os cabelos
 dourados
ao sol poente



Quando eu tinha flores
mortas entre os dentes
e os beija-flores pousavam
em busca de fragrâncias
as pétalas estavam secas
e coloridas como nácar

agora minh´alma
cheira a éter e pigmentos
e volatiza-se
a qualquer nuance de luz

as sementes aromatizam-se na minha boca e rebentam

eu sou essa mulher
de vime que brota
entre a dureza
cimentada dos barrancos
e sonha que esculpe
com os dedos
molhados de argila
um novo nascimento

sou parteira de asas e  
com as mãos justapostas
eu  cinjo as ramagens impalpáveis
contorcidas e duramente
ásperas dos espinhos

trago no ventre
uma seiva adocicada e ocre
e sob a terra respiro  
o hálito exalado das bromélias 
que nascem sob meu túmulo.



eu me aprofundo na envergadura
da cova e busco as raízes
que me fundam nem que para
isso eu tenha que atravessar
a nado o inferno de Dante.

sou porosa e lépida como uma crisálida madura.





Como uma cascata
Chua chua
Sinto toda correnteza borbulhando vulcânica
Feito a boca do magma quente
As minhas grotas escuras se dissipam
Pouco a pouco em luzes fosforescentes

Mil pirilampos brotam do ventre
Cinzindo minha cintura

Sou coroada de flores
E borboletas me beijam a boca
Nas paredes internas crescem musgos
Circundando meus mamilos de heras
Sou inteira seiva e néctar
Pra alimentar beija-flores










Como uma cascata
Chua chua
Sinto toda correnteza borbulhando vulcânica
Feito a boca do magma quente
As minhas grotas escuras se dissipam
Pouco a pouco em luzes fosforescentes

Mil pirilampos brotam do ventre
Cinzindo minha cintura

Sou coroada de flores
E farfallas me beijam a boca
Nas paredes internas crescem musgos
Circundando meus mamilos de heras
Sou inteira seiva e néctar
Pra alimentar beija-flores










Naqueles tempos
eu fazia amor com as paredes
e sonhava pelos corredores
como perambula cheiro de mofo nos porões
os odores que levitam da terra
e abria os dentes e mordia
quando era dia
eu amanhecia nos alçapões
feito pássaro de parafina
feito chuva em gramado fino
eu deitava e escorria
meus pêlos e peles secavam
como roupas ao sol
e eu nua
derretia










se macero rubras
as palavras na boca
feito pétalas excêntricas
à sede dos sentidos

brotam essências
e escorrem gotas lentas 

no 
canto 
inferior 
dos 
lábios
pequenos
acentos
circunflexos

atônitas as palavras
brindam fragrâncias
e  se esgueiram
escondem-se graves 
nos desvãos
do texto sem nexo
que semanticamente escrevo
com minha língua acre
dialetal 
e tinta

e o que leio é
seu doce veneno 
vertendo seiva 
entre meus espinhos 

supurados de mel
Arriscar-me entre cactos




a língua em riste


até que o verbo sulcando a ferida
crie camadas e camadas superpostas de peles e espinhos


 gritar até que a sílaba sangre












As palavras são pássaros...

Como eu desejaria  

agarrá-las
triturá-las e
comê-las vivos

incorpórea substância dos sentidos
mas não...

as palavras passam etéreas pelas minhas mãos
matam meu desejo de morte

as palavras são as únicas
que poderiam me salvar do abismo
mas não...

como os pássaros
quando eu os olho
no céu sumindo
por entre
as nuvens de palavras
que passam como pássaros
sumindo como palavras
sobre as nuvens da minha cabeça

as palavras passam
como pássaros

sobre a minha cabeça
entre as minhas mãos