Quando eu tinha
flores
mortas entre
os dentes
e os
beija-flores pousavam
em busca de
fragrâncias
as pétalas
estavam secas
e coloridas
como nácar
agora
minh´alma
cheira a éter
e pigmentos
e volatiza-se
a qualquer
nuance de luz
as sementes
aromatizam-se na minha boca e rebentam
eu sou essa
mulher
de vime que
brota
entre a dureza
cimentada dos
barrancos
e sonha que
esculpe
com os dedos
molhados de
argila
um novo
nascimento
sou parteira
de asas e
com as mãos
justapostas
eu cinjo
as ramagens impalpáveis
contorcidas e
duramente
ásperas dos
espinhos
trago no
ventre
uma seiva
adocicada e ocre
e sob a terra
respiro
o hálito
exalado das bromélias
que nascem sob
meu túmulo.
eu me
aprofundo na envergadura
da cova e
busco as raízes
que me fundam
nem que para
isso eu tenha
que atravessar
a nado o
inferno de Dante.
sou porosa e
lépida como uma crisálida madura.