terça-feira, 23 de julho de 2013

Quando eu tinha flores
mortas entre os dentes
e os beija-flores pousavam
em busca de fragrâncias
as pétalas estavam secas
e coloridas como nácar

agora minh´alma
cheira a éter e pigmentos
e volatiza-se
a qualquer nuance de luz

as sementes aromatizam-se na minha boca e rebentam

eu sou essa mulher
de vime que brota
entre a dureza
cimentada dos barrancos
e sonha que esculpe
com os dedos
molhados de argila
um novo nascimento

sou parteira de asas e  
com as mãos justapostas
eu  cinjo as ramagens impalpáveis
contorcidas e duramente
ásperas dos espinhos

trago no ventre
uma seiva adocicada e ocre
e sob a terra respiro  
o hálito exalado das bromélias 
que nascem sob meu túmulo.



eu me aprofundo na envergadura
da cova e busco as raízes
que me fundam nem que para
isso eu tenha que atravessar
a nado o inferno de Dante.

sou porosa e lépida como uma crisálida madura.





Nenhum comentário:

Postar um comentário