terça-feira, 13 de março de 2012

POEMA

Com minhas asas quebradas e um bandolim roto
acerco-me das ruínas de um velho quintal
onde deposito meus trecos e cacos
e sento-me para tomar umas réstias de sol
Venho de longe, de paragens sem fim
Minhas roupas puídas, fuosforescentes
lembram a algum  curioso passante
que outrora fui um anjo belo, esbelto e rebelde
de olhos castanhos e pelos lascios
estive no alto dos céus mas tombei e caí
devo ter tropeçado em alguma pedra quando fugia
e perdido um dos sapatinhos de cristal
Minha pele alva e ressequida
Não esconde em mim a vergonha
de estar já bem mal da memória
a confundir contos de carochinha com canções celestiais.
Me sinto pois a própria besta do apocalipse
expulsa, banida dos banquetes do pai
vago  noturna como loba pela rua deserta
descalça e semi-nua
a lua esconde sua cara , faz morada no meu peito
soturna, obscura e pela metade
sou assim mesmo tão cheia em plenilúnio 
errática e transparente
que trago entre as mãos um coração de vidro
ou era mesmo o sapato de cristal que andei perdendo...

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