Essa matéria musgo
que se enreda
pelas cordas feito líquen
nem ao menos toca
as gramaturas da matéria fina
o que brota da saliva
está para além de uns portões de ferro
vem cavalgando
na madrugada
e me atinge a medula como uma
flecha
um pulso forte
reverbera
no meio do plexo num latejar dolorido
batidas tolas,
descompassadas
disparam o gatilho
e eu morro
os sentidos frouxos
dilacerados e moles
me sinto abatida
como um animal
num ritual em sacrifício
aos deuses da floresta
que ainda
nem me emprestaram seu nome
será feito de artérias e sonhos
esses delírios
habitando plenos
minhas zonas longitudinais ?
de onde viriam
esses caracóis
enroscados aos fogos dos
cabelos
e as algas
que brotam no verde-hera da
língua ?
o sal tomando conta
dos cantos mais recônditos
de um idioma muito antigo
já quase extinto
nas praças se ouvem
ao longe
as canções ancestrais
um coro atinge como mel minha garganta
tambores
e sons abafados
vêm chegando dos quatro ventos
apenas música
e neblina na paisagem
nua dos sentidos atônitos
alaúdes e araucárias
emprestam seus corpos
para que os nossos vibrem
o que sinto agora
nem tem forma e nexo
é força
de um touro ébrio dançando blues
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